quarta-feira, 2 de julho de 2008

Entrevista com Dr. Jorge Moreira


Jorge Moreira de Sousa
Presidente do Conselho Executivo da ESJM

Numa altura em que se comemoram os 170 anos do Liceu / Escola Secundária Jaime Moniz fomos ouvir o Presidente do Conselho Executivo, Dr. Jorge Moreira, sobre aquilo que podemos esperar para a nossa Escola, no futuro.


O Lyceu – Antes do 25 de Abril de 1974, a Escola e tudo o que se encontrava legislado sobre a Educação apontavam para um determinado “modelo” de País. Hoje em dia, ao analisarmos esses documentos, muitas vezes produto de intervenções avulsas, não compreendemos o perfil do Portugal que se quer.
A Escola/Educação actual alinha com aquilo que se pretende do Portugal futuro?

Jorge Moreira – O modelo educativo actual encontra-se em conformidade com o regime democrático, que tem como matriz referencial educar para a cidadania, para os valores do pluralismo, da tolerância e da liberdade. No entanto, a escola actual, influenciada por algumas correntes pedagógicas, não tem incentivado os jovens à cultura do mérito, do rigor, da exigência e da excelência, pilares fundamentais para uma educação de sucesso.


O Lyceu – A Escola Secundária de Jaime Moniz, face aos actuais mode-los de gestão, vai continuar com o mesmo modelo de gestão intermédia?

Jorge Moreira – Depende de a Região Autónoma da Madeira alterar ou não o actual modelo de gestão escolar. De qualquer forma, é necessário agilizar e melhorar a qualidade do desempenho de alguns órgãos de gestão intermédia, porque constituem o cerne e o suporte para a nossa instituição adquirir patamares de elevada qualidade. A prestação de serviços de qualidade passa, necessariamente, por uma gestão intermédia competente e exigente.

O Lyceu – As escolas vão poder adaptar os seus próprios modelos de gestão. Que modelo preconiza para a Jaime Moniz do futuro?

Jorge Moreira – Um modelo que procure conciliar duas formas de actuação: uma que assenta no rigor, na disciplina e na autoridade e uma outra que estimula a comunidade educativa para uma cultura de incentivo, de confiança e de estímulo à iniciativa e à inovação.


O Lyceu – Considera a hipótese de se recandidatar à Presidência do Conselho Executivo?

Jorge Moreira – Ainda estou a meio de um mandato e julgo ser cedo para pensar numa recandidatura. Tudo tem o seu tempo. Contudo, estarei sempre disponível para estar ao serviço da minha Escola no sentido de a engrandecer, de a tornar numa Escola de referência, ao serviço dos nossos jovens e ao serviço da Região.


O Lyceu – Um professor não é um gestor. Concorda com a entrada de gestores na gestão da Escola?

Jorge Moreira – Concordo com uma gestão profissionalizada que tenha como referência docentes muito bem preparados e qualificados para o exercício das funções, seja pela formação ou pela experiência na administração e gestão escolar, e que tenha capacidade de liderança. Defendo uma gestão que observe o primado dos critérios de natureza pedagógica sobre os critérios de natureza administrativa.


O Lyceu – A Escola tem cumprido objectivos: aumentou a taxa de aproveitamento; foi ao encontro dos pais, através da criação de escolas a tempo inteiro. E na perspectiva dos alunos? Perante a mudança social pulsante que o nosso século atravessa, a Escola pretende acompanhar e gerir este processo?

Jorge Moreira – Podemos afirmar que a Escola é filha do seu tempo, isto é, está sujeita às regras da temporalidade, às conjunturas económico-sociais e políticas, aos valores e às regras, às modas das diversas gerações. Deverá estar ao serviço de uma política educativa sufragada pela vontade democrática, de forma a dar resposta aos diversos desafios que cada época impõe, ser um instrumento de valo-rização e dignificação da pessoa humana.


O Lyceu – A Escola chama a si “Qualidade e Tradição”. Perante as exigências actuais, o Sr. Director admite a existência de, pelo menos, 50% de cursos tecnológicos na Jaime Moniz?

Jorge Moreira – O Projecto Educativo aprovado e em vigor defende uma matriz baseada na formação dos nossos jovens para os cursos de prosseguimento de estudos para o ensino superior e, de forma supletiva, em cursos de cariz tecnológico e profissional. Temos uma tradição que aponta para cursos de matriz superior e ajusta-se perfeitamente à nossa cultura organizacional, aos nossos recursos humanos e materiais.


O Lyceu – A efectivar-se a escolaridade obrigatória até ao 12º ano, a nossa Escola está pronta para receber um maior número de alunos?

Jorge Moreira – Certamente que temos que estar preparados, como todas as escolas de Região, para ultrapassar quaisquer desafios que nos são colocados. A escolaridade obrigatória de 12 anos significa que estamos a dar mais um passo de gigante no sentido de melhor qualificar os nossos recursos humanos e, assim, dar cumprimento aos desafios que a modernidade nos coloca.


O Lyceu – Está satisfeito com a situação actual da Escola Secundária Jaime Moniz? O que melhorar ou mudar?
Professores?
Funcionários?
Alunos?
Instalações?

Jorge Moreira – Posso dizer que temos que ser inconformistas e nunca estar satisfeitos com uma determinada situação. Temos que exigir e procurar sempre mais e melhor, ser ambiciosos. Claro que temos uma escola de qualidade, com excelentes profissionais e com muito bons alunos. No entanto temos que fazer um esforço, a todos os níveis, para melhorarmos o nosso desempenho cada dia que passa, procurarmos melhores soluções e maiores níveis de exigência e de qualidade, temos que implementar novas práticas, novas tecnologias.


O Lyceu – A Escola apostou na implementação de fechaduras electró-nicas. Quais os aspectos positivos desta medida?
Há alguma ligação entre fechadura electrónica e sucesso dos alunos?

Jorge Moreira – Apenas pode ser um indício de abertura às novas tecnologias. Pode ser um sinal que a Escola incide nas práticas de automação. O Professor deixa de estar depende de um funcionário e torna-se mais autónomo, mais responsável. Esta medida, como outras que estão a ser aplicadas, nomeadamente a implementação do sumário digital, por si só, podem dizer muito pouco, mas apontam para uma mudança de paradigma, de mentalidade e de atitude que, a médio prazo, irão produzir efeitos muito importantes, permitindo libertar os professores e funcionários para outras tarefas, diminuindo as funções meramente burocrático-administrativas e aumentando a produtividade e a qualidade dos processos de ensino-aprendizagem.



O Lyceu – Uma Escola desta dimensão não deveria fornecer diversos serviços à Sociedade e rentabilizar os seus próprios recursos humanos, incentivando um processo de auto-proficiência na Informática, no Desporto, na Literatura, no ensino das Línguas, na Formação pluridisciplinar …?

Jorge Moreira – A interacção Escola-Sociedade civil deve ser cada vez mais aprofundada. Porém a prestação de serviço à sociedade esbarra com preceitos e normas que enquadram o Estatuto da Carreira Docente.


O Lyceu – Considera a possibilidade de alargar as parcerias com outras entidades da sociedade madeirense? Quais? Porquê?

Jorge Moreira – A Escola Secundária Jaime Moniz sempre se pautou por ter iniciativas inovadoras em várias vertentes. A Escola tem como primeiro objectivo servir os seus clientes (alunos) e prestar-lhes um serviço de qualidade a que têm direito. Qualquer parceria que enri-queça o serviço prestado pela Escola é sempre bem vinda.


O Lyceu – O que pensa o Sr. Director fazer, a curto prazo, para desenvolver as TIC na Educação de uma forma integrada?

Jorge Moreira – Neste momento, a Escola encontra-se numa fase de estabilização a este nível e espera-se aproveitar mais e melhor os recursos humanos existentes. Assim aproveita todas as oportunidades ao nível de aquisição de equipamentos que os programas regionais permitem e assim como a hipótese de formação disponível, esperando optimizar e desenvolver as TIC para benefício dos alunos e comunidade educativa.


O Lyceu – Este ano, muitos professores, em especial os de AP, reclamaram a lentidão de acesso à Internet. Foi uma reclamação que chegou ao Conselho Pedagógico. Para quando a resolução do problema, uma vez que durante este ano lectivo a utilização das TIC foi um factor limitativo no trabalho desenvolvido com os alunos nas salas de aula?

Jorge Moreira – Estamos a estudar as configurações e arquitectura para encontrar uma solução alternativa à existente (rede Rei XXI). Após estar completo este estudo vamos pedir à tutela as necessárias autori-zações administrativas para implementar um novo acesso mais célere e eficaz.






O Lyceu – Hoje sabemos que o e-learning é uma mais-valia no processo de aprendizagem do aluno. Para quando a disponibilização de uma plataforma de e-learning para utilização dos nossos professores, alunos e funcionários? Por que motivo não utilizar o Moodle, por exemplo, uma vez que é uma plataforma gratuita? O que podemos esperar neste sentido?

Jorge Moreira – Após uma primeira experiência com a Dra. Maria Antónia Brito e tendo estabilizado o Prodesis, será utilizada a rede interna para disponibilizar a plataforma moodle em rede. No que concerne ao e-learning temos ainda que privilegiar o ensino presencial, não descurando o recurso às novas tecnologias, como percursoras de um novo paradigma de escola.


O Lyceu – A Direcção da Escola Secundária Jaime Moniz pretende ter um papel activo na avaliação dos professores?

Jorge Moreira – O Conselho Executivo não pode extrapolar das suas competências previstas na lei vigente. O Decreto Legislativo Regional atribui ao Conselho Executivo um conjunto de competências que estão devidamente especificadas. Tem um papel de parceria com outras entidades da escola, de modo a permitir uma avaliação mais adequada e ajustada ao perfil e ao desempenho de cada professor.


O Lyceu – Como idealiza uma avaliação de professores o mais justa possível?

Jorge Moreira – Uma avaliação que se baseie numa análise correcta e completa nas competências do professor, quer ao nível da sala de aula, quer ao nível do desempenho de cargos ou outras tarefas que lhe são cometidas. Deve ser discutida e pensada, por cada escola, tendo por base um normativo quadro, mas com o objectivo muito claro de ser, acima de tudo, um instrumento formativo e não punitivo e de ser um estímulo ao bom desempenho e um incentivo às boas práticas que devem ser generalizadas a toda a comunidade escolar.

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